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Barrocos, neoclássicos e coloridos da arte latina. Artistas e arquitetos desenharam a cidade representando o sentimento e a nostalgia portenha, com esquinas cortadas, ruas largas e monumentos dos grandes heróis. Essa é a Buenos Aires de hoje. Preservou a cultura em suas ruas, prédios e dança. No subsolo, o metrô transporta trabalhadores e turistas. Na superfície, em meio às buzinas nervosas, táxis e ônibus pintam a cidade em seu movimento constante. Os passeios levam à Palermo e ao seu requinte; Santa Fé e as lojas de lenços; San Telmo e o “tango nas praças”.

A gastronomia leva à Porto Madero e Ricoleta; A arte vai ao Retiro e seus museus. Um passeio colorido requer uma ida à Caminito. O Shoping Abasto e a rua Carlos Gardel mostram um outro lado da cidade, já um pouco mais portenho. Entre as esquinas de cafeterias a dualidade estética, da arte e das lojas; Starbucks e Tortoni; tangos e buzinas; cúpulas e sacadas com flores. Ao alto se eterniza Evita, próximo ao Obelisco, alheios ao corre-corre da 9 de julho.

Antonio Lassance

31/01/2010

Há sinais contundentes de que Lula se tornou muito maior do que ele próprio. Mais do que um novo governo, sua liderança proporcionou uma mudança na fisionomia, na musculatura e na desenvoltura do Estado e uma transformação das formas pelas quais a sociedade se relaciona com este Estado e com a política.

Num auditório repleto, trabalhadores sem-terra e assentados da reforma agrária, de bonés vermelhos e bandeiras empunhadas, discutem crise civilizatória, democracia, sustentabilidade e disputa contrahegemônica. Mas se discute, na ordem do dia, 2010.

Reunidos em uma das mesas do Fórum Social Mundial Temático, na Bahia, os painelistas, representantes de organizações do movimento, trataram da relação íntima entre desenvolvimento inclusivo e democracia; da necessidade de políticas orientadas para as especificidades regionais (diferenças climáticas, diversidade de potenciais produtivos, de biomas e ecossistemas) e da distinção entre segurança alimentar e soberania alimentar.

Em seguida, o inventário de críticas ao que o Governo Federal supostamente poderia ter feito e não fez, além da marcação de posição sobre o que separa as políticas governamentais da orientação dos movimentos. Na conclusão de cada uma das falas, dois registros importantes: o primeiro, que 2010 é um ano de disputa política entre projetos distintos. O segundo registro é o de que esta disputa exigirá muita discussão para se alcançar unidade no campo de esquerda.

Traduzindo em bom português: os candidatos, em qualquer nível, devem estar preparados para apresentar propostas, ouvir críticas e assumir compromissos, se quiserem o apoio dos movimentos de trabalhadores rurais.

A questão agrária tem um traço em comum com inúmeras outras questões, como a Educação, a Saúde, a política macroeconômica: suas definições não se dão de forma isolada, no âmbito exclusivo da luta social setorial, mas no plano da política e na dimensão institucional, basicamente pela necessidade de inscrever os resultados da luta social na institucionalidade formal que orienta a ação do Estado.

O presidencialismo federativo brasileiro funciona à base de coalizões para governar, o que explica o fato de que os governos precisam contar com partidos que abrigam, em seus quadros, representantes de setores muitas vezes antípodas no que concerne a determinada questão setorial.

No Brasil, como em outros países presidencialistas, a possibilidade de se alterar o ‘status quo’ depende muito do presidente, mas não só dele. Seu governo precisa contar com supermaiorias em cada Casa do Congresso. Do contrário, a minoria pode se valer de dispositivos regimentais para atrasar ou mesmo bloquear a tramitação da pauta prioritária do Executivo. Tarefa árdua. Esta é uma das razões pelas quais, muitas vezes, as iniciativas do Executivo parecem tímidas diante da expectativa de alguns setores progressistas em particular, mesmo quando constituem um grande salto em termos institucionais e de avanço nas políticas públicas.

Por isso 2010 é tão importante. Trata-se de uma eleição que elegerá não só representantes, mas coalizões. Decidirá se a trajetória atual do Estado brasileiro e das políticas públicas em curso será acelerada ou interrompida.
Em 2006, ainda era muito cedo para se testar o quanto que os partidos de esquerda e as organizações populares teriam acumulado forças. Em oito anos, o teste passa a ser mais significativo. Já é quase uma década de uma experiência política inédita na política brasileira e que alterou profundamente o quadro social e econômico do País. Houve redução das desigualdades, o surgimento de uma classe média egressa de setores pobres, a ampliação das políticas públicas de proteção e promoção social e a reconstrução de várias áreas do Estado que haviam sido enfraquecidas, extintas ou desvirtuadas.

A trajetória do primeiro mandato, centrada no esforço de “arrumar a casa” e dar início a políticas de proteção social e promoção de direitos, foi devidamente ajustada, no segundo, para que o País acelerasse e consolidasse mudanças sociais e econômicas.

O grande teste, mais uma vez, é político. A consistência dos indicadores de popularidade do presidente Lula demonstra que seu legado tem se traduzido em reconhecimento político extraordinário. Há quem considere que tal prestígio está associado íntima e exclusivamente à figura do Presidente.

Há sinais contundentes de que Lula se tornou muito maior do que ele próprio. Ou seja, mais do que um novo governo, sua liderança proporcionou uma mudança na fisionomia, na musculatura e na desenvoltura do Estado brasileiro e uma transformação das formas pelas quais a sociedade (a plebe) se relaciona com este Estado e com a política. Tais mudanças trouxeram ingredientes de uma outra lógica para dentro da política brasileira.

O primeiro indicador importante está sendo dado neste exato momento em que se tem a chance de uma campanha de cunho plebiscitário (que independe do fato de haver mais de dois candidatos), na qual se percebe que os projetos são distintos e que o que está em jogo não são apenas os próximos quatro anos de mandato, mas os oito anos que passaram, a década que acabou de começar e o país que se projeta para o futuro.

Agência Carta Maior

Antonio Lassance, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), professor de Ciência Política e assessor da Presidência da República. É um dos autores do livro “Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento”.

“…Esperar de pessoas que não tem a menor noção do que é a coisa pública (res publica) que se comportem de maneira não violenta e discutam racionalmente em questões de interesse não é realista nem razoável.
A violência, sendo instrumental por natureza, é racional à medida que é eficaz em alcançar o fim que deve justificá-la. E posto que, quando agimos, nunca sabemos com certeza quais serão as consequências finais do que estamos fazendo, a violência só pode permanecer racional se almeja objetivos a curto prazo.
O perigo da violência, mesmo se ela se move conscientemente dentro de uma estrutura não-extremista de objetivos de curto prazo, sempre será o de que os meios se sobrepõe ao fim.
Segundo Sorel e Pareto, quanto maior é a burocratização da vida pública, maior será a atração pela violência. Em uma burocracia plenamente desenvolvida não há ninguém a quem se possa inquirir, a quem se possam apresentar queixas, sobre quem exercer as pressões do poder. A burocracia é a forma de governo na qual todas as pessoas estão privadas da liberdade política, do poder de agir, pois o domínio de Ninguém não é um não-domínio, e onde todos são igualmente impotentes temos uma tirania sem tirano.
No plano das ideologias, a coisa é muito confusa, pois é óbvio o fato de que as imensas máquinas partidárias conseguiram sobrepujar a voz dos cidadãos em todo o lugar, mesmo em países onde a liberdade está intacta.
A transformação em administração, ou das repúblicas em democracias, e o desastroso encolhimento da esfera pública que as acompanhou têm uma longa e complicada história ao longo da época moderna; e esse processo tem sido consideravelmente acelerado durante os últimos cem anos por meio do surgimento das burocracias partidárias. A liberdade, ou seja, o poder de agir, encolhe todos os dias, a não ser para os criminosos nos chamados países livres e democráticos.
Nem a violência, nem o poder são fenômenos naturais, isto é uma manifestação do processo vital, ou, eles pertencem ao âmbito político dos negócios humanos, cuja qualidade essencialmente humana é garantida pela faculdade do homem para agir, a habilidade para começar algo novo. Nenhuma outra habilidade humana sofreu tanto com o progresso da época moderna, pois o progresso, como viemos a entendê-lo, significa crescimento, o processo implacável de ser mais e mais, maior e maior. Quanto maior torna-se um país em termos populacionais, de objeto e de posses, maior a administração maior o poder anônimo dos administradores.
Muito da presente glorificação da violência é causado pela severa frustração da faculdade de ação no mundo moderno. Não sabemos se essas ocorrências são o começo de algo novo, um novo exemplo, ou a morte agônica de uma faculdade que a humanidade está a ponto de perder.
Quaisquer que sejam as vantagens e desvantagens administrativas da centralização, seu resultado político é sempre o mesmo; a monopolização do poder causa o ressecamento ou o esgotamento do todas as fontes autênticas de poder no país. Se o poder tem algo a ver com o queremos-e-podemos, enquanto distinto do mero nós-podemos, então temos que admitir que nosso poder tornou-se impotente. Será que o eu-quero e o eu-posso separaram-se? Pode-se dizer que tudo o que sabemos e tudo o que podemos, finalmente voltou-se contra aquilo que somos?
Não sabemos onde o desenvolvimento vai nos conduzir, mas sabemos, ou deveríamos saber, que cada diminuição no poder é um convite à violência. Pelo menos porque aqueles que detêm o poder e o sentem escapar de suas mãos, sejam os governantes, sejam os governados, tem sempre achado difícil resistir à tentação de substituí-lo pela violência.”

Trecho do livro “Sobre a Violência”

de Hannah Arendt

“John Dillinger (Johnny Depp) é preso e passa nove anos em um presídio de Indiana. Logo que sai da prisão, Dillinger arma um plano de fuga para seus amigos. Em pouco tempo, o grupo comete grandes assaltos e John fica conhecido como uma espécie de Robin Hood americano, já que ele só rouba bancos, que são considerados pela população os responsáveis pela grande depressão de 29.
Baseado no livro Public Enemies: America’s Greatest Crime Wave and the Birth of the FBI, de Brian Burrough, Inimigos Públicos conta a história real de um dos mais procurados bandidos dos EUA, um dos responsáveis pela necessidade de criar o FBI.” (clicrbs).
O filme não poderia ser mais atual. Assim como na década de 30, a recessão atual também se origina dos bancos. E a grande sacada do filme é fazer esta analogia.
Mas não é a única que o filme nos mostra. É um tanto irônico em alguns aspectos, chegando a ser divertido a forma como  o autor do roteiro adapta esta história ao contexto de nossos sistemas de governos.
Por diversos momentos nos perguntamos, “quem é o verdadeiro inimigo?” Já de propósito a escolha de um ator que por mais que queira, nunca terá cara de bandido. Johnny Depp será eternamente lembrado pelo seu semblante de bondade de “Edward Mãos-de-Tesoura”. Seu aspecto bom e caridoso, faz o personagem John Dillinger se tornar herói. Menos da metade do filme e a platéia já está torcendo pelo assaltante de bancos. Ironicamente o autor leva a platéia a se emocionar com seus romances, e se entristecer com seus percalços.
Mas a reação do público nada mais é do que um reflexo da atual situação política dos governos que se preocupam mais com a publicidade do que com eficiência na prestação do serviço. Prender um bandido é mais uma preocupação publicitária-política do que combater o crime. E isto é logo identificado por quem assiste o filme. Impossível não fazer esta analogia logo que a trama começa.
Quem é o bandido? Quem explora com seus juros e taxas altíssimas? Quem especula na bolsa de forma selvagem? Quem está mais preocupado com o poder e sua manutenção? A polícia que só prende pequenos assaltantes, fazendo deles publicidade exacerbada e não prendendo os “grandes ladrões”? Estará Dillinger desafiando e pondo em risco este sistema perverso? Por isto precisa ser caçado? E assim o filme se desenrola criando estas dúvidas na platéia.
O final, não é diferente de nossa realidade, quem não conhece o final dessas histórias deve assistir o filme.

Por Ricardo Gomes Ribeiro

O livro/filme é uma representação infanto-juvenil psicológica e filosófica bem elaborada. Ele trás elementos como o medo, a paixão e a esperança, um carro-chefe do diálogo de Harry Potter e a sua imaginação. A série é uma trama fantástica do mecanismo de defesa juvenil. Percebe-se que o a história explica nitidamente que as paixões formam a realidade, mesmo as trágicas que trazem a consciência da existência humana. A realidade ultrapassada pela fantasia é fruto da esperança da alma, assim como o medo que a encolhe e recua. No prazer, temos a intensificação da realidade, e a medida que a noção de realidade se aproxima a tendência é a série aproximar-se muito mais da realidade e libertar-se dos traumas e medos que encolhem a alma. A estória é uma ficção encantadora e positiva do crescimento humano adolescente, com seus problemas, frustrações e desejos. Um imaginário fantástico idealizado para enxergar e projetar suas angústias e medos na juventude, e grande parte dos adultos. A série se torna uma percepção pública inconsciente dos mesmos problemas enfrentados na modernidade. Isso explica o sucesso de vendas, literária e cinematográfica. Não há quem discorde que o literário supera o cinematográfico, como ocorre na maioria dos casos de roteiros adaptados. Harry Potter anulado pela personalidade intempestiva, dominadora e perversa de seus pais adotivos, cria uma realidade paralela e fantasiosa para sobreviver ao caos que sua vida se tornou após a morte de seus pais biológicos. Um imaginário recheado de uma força oculta, de reconhecimento, de ser único, exclusivo e querido por todos, o que ele gostaria de ter na vida real. Dentro dele existe um lado perverso e mal, fruto da revolta de sua vida sofrida, de castigos e humilhações. No fundo ele luta contra o mal interior que também deve ser vencido e destruído. Neste último episódio sua sustentação maior, representado pelo lugar onde ele se refugia, Hogwarts, é combatido pela força do mal. Ele agora já está maduro e pronto para encarar o futuro e as forças internas que lutam contra o bem que aparentemente predomina no jovem mágico. Percebemos neste último episódio o desaparecimento da família adotiva. Uma representação de que este medo já foi vencido pela “criança-adolescente”. Tendo agora que vencer o mal, representado por Voldemort, que a família deixou como trauma. Mas, ele busca em si mesmo o ponto de origem desse mal, representado pela infância de Voldemort. Como todo o roteiro maniqueísta interno historicamente repassados desde os tempos de desenhos animados, este não foge muito. Mas a grande sacada é que esta disputa, que ainda serve de pano de fundo, tem o mal como vencedor ou parecer ser indestrutível. Além do aspecto psicológico e filosófico, há também o enorme simbolismo que permeia algumas situações. Verificados, mais claramente nas cenas pautadas por composições digitais elaboradas. Animais de estimação funcionam como reflexo de aspectos obscuros dos personagens, a proteção da coruja e a repugnância do rato. O “número três”, dos amigos, num circulo impenetrável e fechado. No primeiro episódio também vimos as 3 cabeças do cachorro guardião, assim como sua família adotiva, que também são três, tendo em vista que ele não se considera um igual. O Enigma do Príncipe, sexto filme da série de livros de Harry Potter, perde um pouco na direção de arte, atuação de alguns atores, e na direção fotográfica, abusa um pouco dos efeitos digitais, mas plenamente justificáveis pela intenção de representação do “fantástico” ao qual se enquadra a essência da trama.

Por Ricardo Gomes Ribeiro

Já dizia Cazuza na sua música. Mas mesmo que um grande invento venha a fazer com que o tempo vá para trás, e ele também é infinito para trás, assim como para frente, ele sempre será cruel como a sua infinidade. O tempo, mas não o ser humano. Às vezes por estarmos tão ligados ao tempo nos associamos a ele ao ponto de acharmos que somos infinitos também. “Vivemos como se nunca fossemos morrer, e morremos como se nunca tivéssemos vivido”. E quando nos damos conta, como um passe de mágica. Ele passou, sim passou, pois é cruel no ritmo irritante, sempre igual, nunca anda mais devagar, nem mais rápido, e se acharmos que ele irá voltar, mesmo assim teremos um fim no sentido contrário, mas um fim. Nunca o venceremos.
Talvez a única coisa que pode vencer o tempo é o amor. Ele se perpetua, não tem quem o pare, concorre lado a lado com o tempo. Não tem raça, não tem idade. Anda com os olhos vendados no ritmo alucinante, se tentar segurar, não irá conseguir. Ele o vencerá.
Fará você seguir atrás dele, e talvez seja a única forma de se ter a nítida impressão que o tempo pára. Que o tempo não existe. Mas fica a pergunta: O tempo existe? Ou somos nós que envelhecemos e estabelecemos horas, dias, anos, etc. Quem foi que estabeleceu mesmo a contagem dos anos dos minutos? Os Romanos? Os católicos? Porque afinal contamos o tempo desta forma? Ele existe porque envelhecemos, ou envelhecemos porque ele existe?

Um pacato cidadão americano com sua modesta intenção de progredir na vida e atender as necessidades de sua família resolve comprar uma casa, afinal, já tinha dois filhos, havia ganho uma promoção no trabalho, trocou de carro duas vezes, este último tinha até aquecedor de bancos, e tinha até um cachorro, então agora ele daria um passo maior, compraria uma casa e finalmente teria seu próprio chão. Não precisaria mais pagar aluguél. Isto lhe daria um fôlego nas finanças. Não pagar aluguél, ter algo que é seu. O máximo!

Mas, este fôlego só existiria após terminar o empréstimo que ele teria que fazer, pois não tinha dinheiro para pagar a vista. Rumo ao banco! Gerente, senhor simpático, cafezinho, secretária atenciosa, poltrona confortável, ambiente climatizado. E finalmente o empréstimo. Como foi fácil, nem acreditou…teria a sua casa.

Grande, com um imenso pátio para as crianças e o cachorro “Mortgage”. Piscina. Seu salário estava um pouco apertado, mas no final de semana ainda daria para fazer umas compras no Mall (outlet é claro), nada de abusos.

E as necessidades foram levemente aumentando, um mp9 para sua filha, um curso de francês para seu filho, um laptop novo para sua esposa, que também já comprometera todo seu salário no mestrado numa caríssima Universidade. E assim foi, uma TV LCD para o quarto das crianças, celulares atuais, pois os velhos estavam fora de moda, uma cafeteira que faz capuccino, bolsas, tênis, sapatos, outro carro para a família, etc, etc, etc…a modernidade foi lhe empurrando novos gastos e consumos. Novo empréstimo, novos consumos. Mais um empréstimo, mais consumo. A casa apesar de não estar quitada, foi sendo sua garantia, o banco aceitava isto, não havia problema. O problema era pagar as prestações do empréstimo, cada vez mais alto e mais a despesa da casa. Mas como não faria isto? sua família pedia.

Não poderia ser taxado de “looser”, como diz a sociedade com síndrome de super-homem. Ninguém pode ser um “looser”, isto é o fim do poço para um homem.

Um cidadão brasileiro senta no sofá a noite e combina com seu filho que no dia seguinte irá comprar aquele tênis novo que ele tanto queria. O menino fica feliz. Ele, um mero operário de uma indústria que fabricava ônibus para exportação.

O banco refinanciava a casa do cidadão americano, fazia uma nova avaliação, colocando o valor um pouco mais alto, e esta diferença vinha à vista em forma de empréstimo. Pronto, tudo resolvido, empurra com a barriga e torcia para ninguém vê-lo conversando com o gerente. Até que o pior acontece, chegou ao fim da linha; Não havia mais como suportar as prestações, atrasou 1 mês, dois, três, quatro meses, no quinto mês, veio a ação de despejo. O banco lhe toma a casa. Foi morar de aluguel. Fim da ilusão de não ser perdedor. Agora ele era o legítimo perdedor. Mas estava aliviado sem as prestações.

– Crianças, sem celular novo ok? Fala o cidadão americano.

O banco então decide revender a casa, havia reavaliado tanto que jamais conseguiria vender por aquele preço. Claro o objetivo era o empréstimo, bancos vivem de empréstimos. Mas e agora, o cidadão não pagou o empréstimo, e o preço precisava cair, e o banco faria tudo novamente, cada cidadão com suas ilusões, sua família, seus filhos, seus cachorros. Mas tudo pura ilusão. O banco não suportou tantos empréstimos. O modelo de vencedor consumista estava desabando. O povo vivia de empréstimos, os bancos vivem de empréstimos, os cartões de crédito vivem de empréstimos. O mercado de tecnologia moderna vive de consumidores que vivem de empréstimo. Mas não havia como pagar todos estes empréstimos. O banco que investia trilhões na bolsa de valores para ganhar mais bilhões de lucro de um dia para o outro, simplesmente não tinha mais de onde tirar para investir, e aconteceu o pior.

Noticiou isto numa estação de rádio no sul do Alasca. Estação de rádio, esta que estava, por acaso, sendo ouvida pela internet por um economista na África do Sul. Que escrevia uma coluna para um jornal local.

As pessoas leram, um grande jornal leu, investigou e publicou. Um grande jornal americano não entendeu, mas foi investigar. Não precisava, a bolsa já havia caído. 7 pontos, a maior da história. Ninguém comprou ações, porque aquele grande banco não comprou naquele dia. E todos ficaram assustados. No dia seguinte outros bancos seguiram o mesmo exemplo, pois estavam com os mesmos problemas de empréstimos.

Aquele cidadão que decidira comprar o tênis para o filho, lê as notícias no jornal e pensa, resolve esperar mais uma semana para comprar. O dinheiro estava no banco. Sem problemas, só uma semana. Seu filho concorda.

A fábrica de tênis que tinha uma filial na Tailândia, precisava dos investimentos da bolsa. Precisavam manter as fábricas operando para justificar seus imensos lucros. E agora? Pensavam os donos da tradicional marca de tênis. O pai do garoto do tênis, assustado com as notícias, resolve não comprar o tênis, não sabia qual era o futuro daquela situação que estava vendo na TV.

Vamos ter que reduzir os custos. Diz o dono da famosa fábrica de tênis. As vendas estão caindo. Vamos cortar “gastos”, vamos demitir. E assim ocorreram na fábrica de TV LCD, de mp9, bolsas, sapatos, carros, aparelhos de café, etc, etc, etc.

A empresa de ônibus da Tailândia, onde fica a fábrica de tênis resolve não comprar ônibus novos que estava prevendo, pois o movimento havia caído, as fábricas retiraram alguns ônibus fretados, pois os empregados diminuíram. Não tinha necessidade de ônibus novos, pelo contrário negociariam alguns que sobraram no pátio.

A fábrica de ônibus diminui a produção, não havia necessidade de produzir tanto, afinal, a Tailândia o principal comprador, havia cancelado as encomendas. Vamos ter que reduzir os custos. Diz o dono da famosa fábrica de ônibus no Brasil. As vendas estão caindo. Vamos cortar “gastos”, vamos demitir.

E o pai do garoto perdeu seu emprego antes de comprar o tênis par seu filho. Mas não era um perdedor por isto. Seu filho entendera. E ele não tinha cartão de crédito. Era apenas um tênis.

– Pai, com o dinheiro que vc foi indenizado não podemos abrir uma fábrica de tênis. Meus colegas todos querem tênis.

Enquanto isto o país do tênis e do banco, pedem empréstimo para o Japão, sim aquele da Bomba Atômica. Será que irão pagar? Mas mesmo assim emprestaram o dinheiro. 150 trilhões de dólares para salvar a economia. Enquanto uns gastam e pedem empréstimos desenfreadamente, o Japão com sua sabedoria milenar economiza para os tempos difíceis.

Era a reunião anual dos grandes países, ou pelo menos dos países com os atuais grandes poderes econômicos. Todas as potências de verdade e as supostas futuras potências estavam presentes. Os ânimos não eram dos melhores, havia uma recessão no mundo e os presidentes estavam desanimados com o futuro. Não estavam preocupados com o futuro da humanidade, mas com o futuro deles próprios, pois alguns presidentes estavam encerrando os mandatos e outros que entraram recentemente, pouco poderia fazer pelo sucesso pessoal, afinal estariam sem dinheiro, isto era horrível do ponto de vista de um estadista que quer ficar marcado na história.

A situação era constrangedora, bolsas caindo, desemprego em alta, nível de crescimento baixo, grandes conglomerados bancários quebrando e pedindo socorro aos governos, alguns até então neoliberais. Enfim, era um clima de tristeza. Cumprimentavam-se como quem consola um ao outro, com aquela expressão sem graça, poucos sorrisos, nenhum espumante, nada havia para comemorar.

Os discursos eram de grandes idéias, cada um querendo tirar um coelho da cartola e mostrar que sua equipe de governo tem a solução.  A verdade é que pouco havia a se fazer, discursos, apenas discursos.

Foi então que um senhor, que entrou no grande auditório, ninguém sabe como, não tinha crachá, os seguranças não o barraram e ele se dirigiu sem dizer nada até ao microfone, em silêncio, com um ar de professor que chegou à aula para acabar com a bagunça dos aluninhos baderneiros. Lentamente fez um sinal de reverência e respeitosamente tirou o presidente que discursava do microfone, afinal ele não falava coisa com coisa mesmo.

Deu um solene e retumbante BOA NOITE, aos senhores presidentes e seus respectivos primeiros Ministros e Ministros dos Exteriores. O Auditório estava cheio.

Ninguém sabia de quem se tratava.

– Senhores, venho até vocês para explicar a real situação da humanidade. Todos focaram seu olhar, na expectativa, seguranças tentaram correr para impedir, mas, havia outros que não permitiam a chegada dos seguranças.

– Vou explicar o início de tudo, e vocês entenderão o porque da minha presença. O silêncio foi maior.

– Venho de um lugar distante, na verdade, um planeta distante, na verdade outra Galáxia.

Foi uma correria. Um louco pegou o microfone. – Tirem-no daí!. Gritaram.

– Primeiro foi o planeta o Xhinn, o primeiro do sistema solar a ter fim. Depois o planeta Eghypp, já não existe mais. Sumiu! Depois o Inc, depois o Mhay, Depois o Nordh, depois Indhj, e assim sucessivamente, vários planetas se foram do sistema solar de vocês.

Falava com ênfase, num tom meio que suave e hipnotisante ao mesmo tempo. Parecia saber do que falava, não parecia louco.

– E eles vieram para este planeta tentar sobreviver da grande destruição que provocaram em seus planetas. Formaram colônias dos Tibetanos, Chineses. Egípcios, Incas Mayas, Nórdicos, Indianos, Africanos, etc. Todos com a sua missão de tornar esse planeta mais bonito e melhor.

– Nós, de outra Galáxia bem mais avançada, permitimos esta colonização com a condição de que eles não destruíssem este pequeno e bonito planeta. Chamávamos de Planeta azul, depois batizaram como Terra, enfim. Desde então temos acompanhado e até ajudado com alguns voluntários altruístas de nosso planeta, como Moisés, Platão, Cristóvão Colombo, Eisntem e outros que ajudaram a mudar o rumo das coisas por aqui.

O pessoal não acreditava no que estava ouvindo, não sabiam se riam ou se choravam, ou se chamavam a polícia, a verdade é que uma inquietação tomou conta do ambiente.

– Quer sair daí, seu maluco, por que não te calas! Gritou um líder dos países de língua espanhola.

Mas ele continuava com um hipnotizante e curioso discurso. Vamos ver até onde este louco quer chegar, pensavam alguns líderes, Talvez assim acabasse logo esta reunião que não levaria a lugar algum.

– Estes nossos voluntários nos relataram que a coisa não estava indo para um caminho muito saudável, mas mesmo assim resolvemos não interferir, deixamos a evolução natural das coisas tratar de tomar o rumo certo.

– Primeiro foi a destruição do povo do planeta Maia, depois o povo Inca, depois as guerras, Romanos, Alemães, Japoneses, Americanos, Judeus, Libaneses, Coreanos, etc, etc. Depois foi a pobreza, se espalhou pelo mundo sem a mínima sensibilidade de outros povos, que deveriam ser co-irmãos, a fome e a desigualdade se espalhou no mundo, depois foi corrupção desenfreada, a ganância pelo poder, depois a destruição total da natureza, e agora…tudo isto junto, guerra, fome, corrupção, destruição de meio-ambiente. Sinto muito falar-lhes, mas, vocês estão caminhando para a auto-destruição! Gritou o suposto E.T.

Agora os líderes se ajeitavam na cadeira, se entreolharam em silêncio, ficaram com um pouco de medo, seria um terrorista, um homem-bomba.

– Não, não sou nenhum homem-bomba, nem mesmo terrorista, olhando diretamente para os líderes que pensaram isto dele. Sim em nosso planeta não usamos mais este aparelhinho de vocês aqui, o celular. Usamos a telepatia.

Os líderes ficaram aterrorizados, teria ele mesmo o poder da telepatia?

– Vocês, estão indo para o buraco. E esta é a última chance de sobreviverem, não permitiremos que vocês destruam Marte, Plutão, Saturno, e assim por diante. Chega! É o fim da linha, não terão mais planetas para colonizarem, não permitiremos! Ou vocês endireitam essa bagunça que fizeram, tratem de reorganizar tudo ou então nós iremos interferir novamente!

Agora parecia que ele estava falando sério, não mudava a expressão de sua voz, dava ênfase, mas continuava sereno, com um ar de senhor dos planetas.

– Por enquanto estancaremos o progresso de vocês. Esta crise econômica que geramos, sim, pois, fomos nós que a geramos, servirá para vocês repensarem. Enquanto isto farão um tema de casa. Por hora, acabem com as guerras ridículas por pedaços de terra ou por este combustível fedorento, ultrapassado e pré-histórico que chamam de petróleo. Parem de plantar eucaliptos, vocês não irão usar mais papel em breve, estão acabando com a comida e com a terra, ou vocês comem eucalipto? E a água? o que vou falar da água? Coisa mais podre! Era tão limpinha, tão transparente! E o oxigênio? Vocês em breve terão que usar máscaras! Este planeta tinha um ar tão puro, lembrou ele. E as florestas? onde foram? Havia tantas, tão ricas.

Os líderes se entreolharam, coçaram a cabeça, não sabiam como reagir. Um pouco de vergonha, certamente, alguns nem tanto.

– Enquanto isto não melhorar, nós não liberaremos a bolsa, ou vocês acham que controlam a bolsa de valores? Queremos que vocês gerem a própria energia que vão usar, nada de exploração natural, usem o vento, o sol, a própria energia gerada pelo corpo de vocês! Dêem um jeito! Ah, e emagreçam um pouco, parem de comer porcarias. Seus gordos fedorentos! Agora o E.T que era um esquálido estava gritando.

Todos se assustaram. Era incrível como ele conseguia obter a atenção de todos os líderes por tanto tempo. Ou, seria a consciência, daqueles que tinham?

E continuou…

– A próxima e mais trágica missão…dando uma pausa com um ar de “nada mais poderemos fazer” será levar as crianças de vocês embora. Ficarão conosco até se tornarem adultas, e depois as traremos de volta. Será a última tentativa. Ou vocês educam as crianças e torne-nas adultos normais, não isto que vocês são hoje! Ou as levaremos.

– Não duvidem do nosso poder. Estivemos presentes nos rituais de pose de vocês todos. Estamos levando algumas pessoas para tornarem-se nossos informantes. Muitos de nós permanecem aqui o tempo todo em nossas naves. Não duvidem!

E por hora, NÓS….do planeta God, sustentaremos o novo governo. Vocês terão que obedecer a um país chamado…Tibet, eles controlarão tudo até eu voltar.

E foi saindo lentamente do palanque do congresso mundial de líderes. Quando ainda estava na escada um líder levantou e perguntou?

– Como saberemos que isto tudo não é um teatro armado por algum país? Que você não está nos contando uma história do chapeuzinho vermelho? Que isto não é uma grande armação? Não sabemos quem é você….você aparece em nossa conferência e toma a palavra…o que o faz pensar que acreditaremos, somos líderes das grandes potências, não somos crianças.

Ele olhou bem para aquele Presidente com um ar de super-homem, arrogante. Olhou de cima a baixo, como quem diz: “pobre homem”!

– E você tem outra alternativa melhor para o SEU planeta?